Médico narra últimos momentos do papa Francisco: ‘Entendi que não havia mais nada a fazer’

“O papa queria morrer em casa, ele sempre dizia isso enquanto estava no Gemelli”, disse Alfieri.

O médico Sergio Alfieri, chefe da equipe que foi responsável pelo papa Francisco, deu detalhes sobre as últimas horas do pontífice. Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, ele contou que foi chamado ao Vaticano na madrugada de segunda-feira, 21.

Às 5h30, ele foi alertado por Massimiliano Strappetti, enfermeiro e assistente de saúde do papa, sobre o quadro e a necessidade do pontífice ser levado novamente ao hospital. Alfieri disse que chegou 20 minutos depois do aviso e encontrou o papa com os olhos abertos, respirando normalmente, mas já sem resposta.

“Entrei no quarto dele, e ele estava com os olhos abertos. Notei que ele não tinha problemas respiratórios, então tentei chamá-lo, mas ele não respondeu”.

“Ele também não respondeu a estímulos, mesmo os dolorosos. Naquele momento eu entendi que não havia mais nada a fazer. Ele estava em coma.”

Professor Sergio Alfieri (R) gives a press conference at the Gemelli hospital where Pope Francis is hospitalized in Rome, on March 22, 2025. (Photo by Tiziana FABI / AFP) Foto: TIZIANA FABI

Segundo Alfieri, era arriscado demais levar Francisco de volta ao hospital Gemelli, onde ele foi tratado por uma infecção respiratória complexa que quase o matou duas vezes.

“O papa queria morrer em casa, ele sempre dizia isso enquanto estava no Gemelli”, disse Alfieri.

Francisco morreu duas horas depois de sofrer um derrame. Ainda de acordo com o médico, o cardeal Pietro Parolin chegou e rezou o rosário sobre o corpo, acompanhado pelo pessoal da casa papal. “Eu o acariciei, como uma despedida”, disse Alfieri.

O Vatican News disse que o papa conseguiu fazer um gesto de despedida para Strappetti após adoecer, e que as pessoas presentes na hora falaram que ele não parecia sofrer.

Durante a internação, médicos cogitaram suspender tratamento

Sergio Alfieri, de 58 anos, é diretor do serviço médico-cirúrgico do Hospital Gemelli, em Roma, onde o pontífice ficou internado por 38 dias por conta de uma pneumonia bilateral. Ele foi o principal responsável pela saúde de Francisco.

Logo após o papa ter alta, no final de março, o médico deu detalhes dos momentos mais críticos e revelou que a equipe chegou a cogitar suspender o tratamento e deixar o pontífice morrer, uma vez que ele estava sofrendo bastante.

O especialista tratava do papa desde 2013 e foi responsável por todas as cirurgias que o pontífice precisou fazer. A primeira a ser realizada foi em 2021, para tirar uma parte do cólon (a parte mais alongada do intestino grosso) que continha bolsas chamadas de divertículos. A segunda foi em 2023, por conta de uma laparocele, um tipo de hérnia que surgiu no abdômen do papa em razão de outro procedimento cirúrgico feito anos anteriores.

Sergio Alfieri já tinha uma relação próxima, mesmo que indireta, com o tratamento de pontífices. Isso porque, antes de se tornar íntimo de Francisco, o médico foi aluno de Giovanni Battista Doglietto, que integrou a equipe do cirurgião Francesco Crucitti, responsável por operar o papa João Paulo II (1920-2005) em três oportunidades.

Alfieri nasceu em Roma, em 28 de dezembro de 1966. Ele ingressou na Universita’ Cattolica del Sacro Cuore em 1987 e, cinco anos depois, em 1992, se formou na instituição com a nota máxima. Migrou a sua carreira para a cirurgia, se tornando especialista na área em 1997, concluindo o curso também com nota máxima e honras.

De aluno, virou docente. Desde 2011, ele leciona na mesma instituição onde se formoucomo professor titular da disciplina de Cirurgia em cursos de graduação e pós-graduação da universidade/COM AP e AFP

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