Redução da idade penal passa na Câmara e segue para o Senado
A Câmara aprovou nesta quarta-feira (19) a redução de 18 para 16 anos da idade mínima para
imputação penal nos de casos de crime hediondo, homicídio doloso e lesão corporal seguida
de morte.
O resultado já esperado confirma a proposta aprovada no início de julho, quando o texto foi
apreciado em primeiro turno pelos deputados –veja como cada deputado votou.
Foram 320 votos favoráveis, 152 contrários, e 1 abstenção. Placar semelhante ao do primeiro
turno, quando foram registrados 323 votos a favor, 155 contrários e 2 abstenções. Nesta
segunda etapa, 39 deputados não compareceram ao plenário.
Por se tratar de uma proposta de emenda à Constituição, a mudança precisava de pelo menos
308 votos favoráveis para ser aprovada. O texto agora segue para o Senado, onde também
precisa ser apreciado em dois turnos pelo plenário.
Se aprovado pelos senadores, o texto segue para promulgação. O Senado, no entanto, já deu
sinais de que o ritmo de tramitação da proposta será mais lento. O presidente da Casa,
Renan Calheiros (PMDB-AL), já mostrou disposição em criar uma comissão especial para
discutir todas as propostas sobre o tema.
A redução da maioridade avançou rapidamente na Câmara desde que o deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) assumiu a presidência da Casa, no início deste ano. Ele patrocinou um acordo
entre o PMDB e partidos de oposição, como o PSDB, para garantir a aprovação da medida.
Durante a votação em primeiro turno, uma manobra regimental usada por Cunha permitiu que o
texto fosse votado duas vezes em um prazo de 24 horas. Isso porque, na primeira votação, a
proposta foi derrubada.
A articulação foi vista por deputados contrários à proposta como uma manobra que feriu as
regras da Casa.
Nesta quarta, Cunha não permitiu que pessoas favoráveis e contrárias à proposta entrassem
nas galerias do plenário para acompanhar a votação.
Na votação do primeiro turno, o governo Dilma Rousseff tentou convencer a base aliada a
rejeitar a proposta. Os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e dos Direitos Humanos,
Pepe Vargas, atuaram pessoalmente para convencer os deputados da base.
A preferência do governo é por mudanças no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que
aumentassem a punição para menores que praticassem crimes violentos, bem como para adultos
que aliciassem e cooptassem jovens.
Com o acirramento do ambiente político nas últimas semanas, contudo, o governo decidiu se
abster das tentativas de impedir a votação desta quarta. Um pedido de retirada de pauta
chegou a ser apresentado por governistas no plenário, mas foi rejeitado.
Ontem, o líder do governo na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que este não é
um assunto de governo, mas sim da Câmara dos Deputados.
Logo após a votação, a organização Human Right Watch afirmou que a Câmara dos Deputados
despreza normas internacionais de direitos humanos ao buscar responsabilizar criminalmente
adolescentes como se fossem adultos. Segundo a diretora da ONG, Maria Laura Canineu, “a
proposta de emenda viola os direitos das crianças e adolescentes e, se implementada,
enfraquecerá os esforços para redução da criminalidade”.
De acordo com a nota, o “Estado brasileiro deveria oferecer verdadeiras chances de
ressocialização, em vez de arriscar facilitar o recrutamento de jovens por facções
criminosas”. A organização sugere que o Senado rejeite a proposta “pelo o bem do país”. Folha