Casal suspeito de aplicar golpes na web teria feito 100 mil vítimas
Suspeitos de aplicar golpes pela internet de no mínimo R$ 100 milhões, a empresária Viviane Boffi Emílio e o marido Michel Pierri de Souza Cintra mantinham uma vida de luxo
com restaurantes caros, compra de veículos importados a cada três meses e doações para
igreja no total de R$ 700 mil, segundo uma testemunha entrevistada pela EPTV.
A rotina do casal, que mora em Ribeirão Preto (SP), foi revelada por um ex-funcionário do
site Pank, uma das empresas com sistema de compras online que, segundo o Ministério
Público, fizeram mais de 100 mil vítimas em todo o país.
Os suspeitos eram investigados há dez anos. Viviane foi detida na terça-feira (1º) em Ribeirão Preto e foi levada para a Cadeia de Cajuru (SP), após ter prisão temporária decretada. Cintra também teve prisão ordenada, mas está foragido. A advogada do casal,
Cláudia Seixas, afirmou que não comentará as acusações porque o processo ainda está em
andamento.
A dupla e mais duas pessoas apontadas como “laranjas” podem responder por associação
criminosa, estelionato, lavagem de dinheiro e crime contra a economia popular.
Segundo as investigações do MP, os sites administrados pelo casal comercializavam diversos
produtos, principalmente eletroeletrônicos, que, após serem adquiridos pelos clientes, não
eram entregues ou não apresentavam a qualidade anunciada, sendo, muitas vezes, artigos
piratas.
A empresa em questão era registrada no nome de Viviane, funcionava no Jardim Irajá, zona
sul de Ribeirão, e contava com 60 funcionários. Já Cintra respondia pelo site Stop Play,
que também vendia produtos pela internet e foi fechado há oito anos pela mesma prática de
golpes em clientes, segundo o MP.
De acordo com a testemunha, o site Pank vendia de 10 mil a 20 mil peças de um único
produto, mesmo quando não havia estoque suficiente. “Poderia entregar um terço [do que era
vendido]. Mas desse um terço mais de 50% ia dar problema. Com certeza.”
Pelo menos 100 mil pessoas foram lesadas em golpes que somam, no mínimo, R$ 100 milhões,
segundo a Promotoria. O valor adquirido com o esquema possibilitou que o casal levasse uma
vida de luxo, que envolvia um apartamento em uma área nobre de Ribeirão Preto, a troca de
carros importados a cada três meses, restaurantes caros e frequente ajuda em dinheiro à
igreja – ele não revelou quantas nem quais eram.
“Funcionários sabiam que eles doavam não só dinheiro, mas ofertas também. Ele já deu muita
grana na igreja. Inclusive doou carros. Três carros que eu sei. Isso dá mais ou menos R$
700 mil, mas deve ter muita coisa que a gente nem sabe ainda”, disse o ex-funcionário.
O ex-funcionário contou também que a empresa em que trabalhou contava com um setor de
atendimento, que estava ciente das constantes reclamações sobre a qualidade dos produtos,
mas não tinham como agir.
De acordo com o promotor Aroldo Costa Filho, o MP identificou milhares de queixas contra
empresas do casal nos últimos dez anos. “Um site de reclamações bem conhecido registrou
mais de 42 mil reclamações só da empresa Pank. Mais três mil reclamações contra a Stop
Play, que também era do grupo, e mais três mil de outras empresas. Nós estimamos que seja
um dos maiores fraudadores na internet do Brasil”, afirmou.
Os golpes também foram praticados contra empresas de publicidade, que eram contratadas para
divulgar os sites dos suspeitos. Em uma das principais ocorrências, o casal divulgou o site
Pank durante um jogo da seleção brasileira de futebol em Londres e deixou de pagar US$ 360
mil.
Durante os anos de investigação, Viviane e Cintra foram intimados a depor e tentaram
explicar os problemas apontados pelos clientes. Em gravações dos depoimentos adquiridas
pela equipe da EPTV, o casal alega que apreensões feitas pela Polícia Federal desencadearam
um “descontrole financeiro muito grande”.