‘Meus filhos escorregaram de minhas mãos’, diz pai de menino sírio morto
O pai de Aylan Kurdi, o menino sírio de 3 anos que foi encontrado morto em uma praia da
Turquia e cuja foto se tornou uma das mais representativas da crise migratória na Europa,
falou nesta quinta-feira (3) sobre a tragédia. Abdullah Kurdi perdeu também a mulher e
outro filho de 5 anos no naufrágio. “Meus filhos escorregaram das minhas mãos”, disse à
agência de notícias turca Dogan.
“Tínhamos jalecos salva-vidas, mas o barco afundou porque várias pessoas se levantaram.
Carreguei a minha mulher nos braços. Mas meus filhos escorregaram das minhas mãos”, contou
ele.
Abdullah disse que a família pagou para atravessar da Turquia para a ilha grega de Kos duas
vezes.
Após o naufrágio, na quarta-feira (2), Abdullah ligou para a irmã, que mora em Vancouver há
20 anos, e disse que seu único desejo é voltar para a cidade de Kobane para enterrar seus
familiares e ser enterrado ao lado deles.
De acordo com ele, 16 membros de sua família que combatiam o grupo jihadista Estado
Islâmico (EI) morreram na sua cidade natal.
Depois que o naufrágio se tornou público, o Canadá ofereceu asilo a Abdullah, mas ele
afirmou que rejeitou a oferta, segundo a agência EFE.
O sírio também fez um apelo à comunidade internacional que faça o possível para evitar
sofrimentos como o seu.
“Quero que o mundo inteiro nos escute e veja onde chegamos tentando escapar da guerra. Vivo
um grande sofrimento. Faço esta declaração para evitar que outras pessoas vivam o mesmo”,
disse Abdullah Kurdi nesta quinta a jornalistas turcos diante do Instituto Médico Legal da
cidade de Mugla.
Teema Kurdi, irmã de Abdullah, disse ao “National Post” que o pedido de refúgio havia sido
negado em junho pelo Ministério da Cidadania e da Imigração do Canadá devido a complicações
envolvendo os pedidos de refúgio para estrangeiros.
A fotógrafa que registrou as imagens do corpo de Aylan na praia da Turquia também falou
sobre o caso nesta quinta.
Demir cobre as imigrações na região há 15 anos. “Eu testemunhei muitos incidentes com
imigrantes nesta região, suas mortes, seus dramas. Espero que isso agora mude. Fiquei
chocada, me senti mal por eles. A melhor coisa a fazer era tornar sua tragédia conhecida.”
Pelo menos nove sírios morreram no naufrágio que matou a família de Abdullah Kurdi, segundo
a agência AFP — outros veículos citam 12. As duas embarcações haviam partido do balneário
turco de Bodrum e tentavam chegar à ilha grega de Kos.
A foto do menino morto virou um dos assuntos mais comentados no Twitter e diversos veículos
da imprensa internacional a destacaram como símbolo da gravidade da situação, inclusive com
potencial para ser um divisor de águas na política europeia para os imigrantes.
O primeiro-ministro da França, Manuel Valls, disse que a morte do menino sírio mostra a
necessidade de ação urgente da Europa na crise migratória. “Ele tinha um nome: Alyan Kurdi.
Ação urgente é necessária – uma mobilização da Europa inteira é urgente”, escreveu Valls em
sua conta no Twitter nesta quinta-feira.
Na quarta-feira, Itália, França e Alemanha assinaram um documento conjunto pedindo pela
revisão das atuais regras da União Europeia sobre garantia de asilo e uma distribuição
“justa” de imigrantes no bloco, informou o Ministério das Relações Exteriores da Itália.