Xuxa, Zezo e deputados comentam revoltados denúncia de cães mortos eletrocutados em Barras

A denúncia de que o Centro de Zoonoses da cidade de Barras teria sacrificado animais com choque elétrico repercutiu nas redes sociais. Famosos, como a apresentadora Xuxa Meneghel, o cantor Zezo e o lutador de MMA Fernando Santo Forte repudiaram o caso.

Os famosos comentaram a publicação do deputado estadual delegado Bruno Lima (PSL-SP). Até as 12h45 desta terça-feira, a publicação do delegado tinha mais de 635 mil visualizações e 17 mil comentários. A ex-BBB Cacau Colucci e o youtuber Guto TV também comentaram a publicação.

“Como assim? Prisão é pouco para essas pessoas”, comentou Xuxa.

“Meu Senhor Jesus, Como pode um ser humano ser fazer ou até ser conivente com tal ato de desumanidade ??? Assassinar seres tão inocentes que não têm culpa de estarem vivos ??? Como pode meu deus ??? 😭😭😭😭😭😭😭 indignado”, escreveu Zezo.

O deputado federal Fred Costa (Patriota-MG), autor do projeto de lei que aumentou para até cinco anos de prisão a pena para o crime de maus-tratos contra animais deu apoio à denúncia:

“Como autor da lei que Prevê Cadeia Para maus-tratos, estou a disposição para o que precisar, irmão”, escreveu.

Denúncia

A Polícia Civil da cidade de Barras, cidade a 130 km de Teresina, abriu inquérito para investigar denúncias de maus-tratos contra cães no Centro de Zoonoses da cidade. Os animais estariam sendo mortos eletrocutados, segundo a polícia. A prefeitura de Barras negou que os animais sejam mortos com choques elétricos. Veja íntegra da nota da prefeitura ao fim da reportagem.

O delegado Ayslan Magalhães informou ao G1 que o caso está sendo investigado e a polícia tem indícios de que os animais são mortos eletrocutados. Segundo o delegado, o veterinário responsável pelo Centro de Zoonoses chegou a confirmar a prática em entrevista (veja vídeo acima).

“A prefeitura nega, mas o veterinário chegou a confirmar que eles são mortos eletrocutados depois de serem sedados. Nós vamos investigar tanto a conduta deste profissional quanto a situação do Centro de Zoonoses”, informou o delegado.

Veterinário e prefeitura negam

O veterinário mencionado pelo delegado é Elivelton Luís. Em entrevista ao G1, o profissional negou a informação prestada anteriormente. Ele disse que os animais mortos no Centro de Zoonoses da cidade são aqueles que tiveram dois testes positivos para leishmaniose – o calazar.

Além disso, negou que os cães sejam mortos eletrocutados. A prefeitura da cidade também se pronunciou por meio de nota. Leia a íntegra ao fim da reportagem. Segundo o veterinário, os cães são sedados e depois, é administrada uma medicação para a execução da eutanásia.

“Se isso [eletrocussão de animais] acontecia, era antes. Agora, o procedimento é todo regulamentado. Não há sacrifício de animais eletrocutados. Nós seguimos protocolos e usamos a medicação recomendada”, declarou.

Anísio Ferreira, médico veterinário e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Piauí, diz que a prática não é aceita e é considerada maus-tratos. Segundo ele, a eutanásia (sacrifício) de animais com leishmaniose é recomendada pelo Ministério da Saúde e pela Vigilância Sanitária, mas deve seguir um protocolo para que não haja sofrimento do animal eutanasiado.

“O manual de eutanásia recomenda as drogas para ser feito o processo. O choque elétrico já foi abolido, é maus-tratos aos animais. Nós fiscalizamos isso e há muitos colegas que denunciam, porque muitas prefeituras, não todas, ainda adotam essas práticas, o que não deixa de ser um crime de maus-tratos. Hoje, os medicamentos utilizados são o cloreto de potássio e a ketamina, recomendados pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária”, disse.

A ketamina ou cetamina é uma medicação para sedação do animal, para que ele não sinta dor ao ser eutanasiado. Já o cloreto de potássio seria responsável, de maneira geral, por fazer o coração do animal parar. Contudo, ele causa extrema dor ao cão, devendo ser usado somente após anestesia.

Segundo o presidente do conselho, em geral a eutanásia por eletrocussão é mais utilizada por ser mais barata e mais rápida que a utilização de medicação. Ele disse ainda que a solução definitiva para o controle da leishmaniose em animais e seres humanos é uma “garantia de saúde da sociedade”.

“Para o cuidado com a saúde humana, devemos nos preocupar com saúde ambiental e animal. É um tripé. Muitos aspectos levam à proliferação do mosquito vetor [da leishmaniose]. Com coleta de lixo frágil, sem esgotamento sanitário, isso se agrava. Não adianta continuar sacrificando animais. Ações pontuais só geram resultados pontuais, não sólidos”, alertou.

Maus-tratos contra cães e gatos podem levar à prisão
Em outubro de 2020, o governo federal sancionou a lei que aumentou a pena para até cinco anos de reclusão a quem praticar atos de abuso, maus-tratos ou violência contra cães e gatos. O texto também prevê multa e proibição da guarda para quem praticar os atos contra esses animais.

A pena é aumentada de um sexto a um terço se o crime causa a morte do animal. O termo “reclusão” indica que a punição pode ser cumprida em regime inicial fechado ou semiaberto, a depender do tempo total da condenação e dos antecedentes do réu.

As denúncias envolvendo maus-tratos ou outros tipos de crimes contra qualquer animal podem ser feitas através do número 190, da Polícia Militar, ou buscando a delegacia de Polícia Civil mais próxima para registrar a ocorrência.

Confira a nota da prefeitura na íntegra:

A direção do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) vem a público esclarecer que, no tocante ao controle do Calazar, o CCZ obedece a um protocolo legal recomendado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinaria, que tem por objetivo evitar que cães que precisam ser sacrificados passem por sofrimentos.

A rotina inclui realização de teste rápido para o calazar. Este dando positivo, a equipe do CCZ juntamente com os agentes de endemias, submetem o cão a um exame mais específico: uma sorologia sanguínea, que é enviada ao LACEN. Dependendo do resultado – positivo ou negativo – e das condições clínicas, o animal pode ser destinado a eutanásia.

No CCZ, a eutanásia é feita, com o animal previamente sedado, anestesiado, através da utilização do pré-anestésico Acepran. Depois com o anestésico Ketamina, composição esta que impossibilita o animal a sentir qualquer dor mínima, como também impede que passe por sofrimento.

Nos casos de leishmaniose avançada, o sacrifício é inevitável porque, além dos cães, as pessoas podem ser contaminadas, ficar com sequelas graves e até morrer em decorrência da enfermidade. A propagação precisa ser evitada para a proteger a população.  G1-PI

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