De gigante dos potes ao risco de falência: o que explica o derretimento da Tupperware

Conhecida como sinônimo da categoria de produto que vende, a Tupperware atravessa um período complicado em sua história de 77 anos. Nesta semana, a fabricante de potes de plástico informou ao mercado que há “dúvidas substanciais sobre a capacidade da empresa de continuar operando”.

Para especialistas, a tradicional marca não soube se adaptar às mudanças ao longo do tempo e nos últimos anos viu a concorrência aumentar, principalmente com produtos vindos da China.

“Eles tiveram muita dificuldade para se adaptar ao longo dos anos, ao mesmo tempo que surgiram novos concorrentes e opções. A empresa não conseguiu diversificar e ampliar a forma que vende seu produto. Isso foi gerando resultados ruins e a empresa foi se endividando até o ponto de ter mais dívidas do que lucro”, disse Alexandre Ripamonti, professor de economia e finanças da ESPM.

A Tupperware afirmou que não terá dinheiro suficiente para financiar suas operações se não garantir dinheiro adicional. “A companhia está explorando possíveis demissões e revisando seu portfólio imobiliário para possíveis esforços de economia de dinheiro”, disse em comunicado.

O que explica?

Com o passar dos anos a marca manteve muitas das suas características, como o modelo de vendas por meio de consultoras. Contudo, a Tupperware tem enfrentado dificuldades para encontrar consumidores entre o público mais jovem, que prezam pela sustentabilidade, e avançar no comércio eletrônico.

“Durante muito tempo, vender Tupperware era algo interessante. Nos anos 1960, o plástico era uma novidade nos Estados Unidos, considerado um produto de inovação e esse modelo de venda funcionou bem durante anos”, disse o professor de MBA da FGV Roberto Kanter.

Segundo ele, o cenário para a empresa se reverteu gradualmente com a chegada do comércio digital, as mudanças de hábito dos consumidores e a entrada de mercadorias da China, sendo produtos de qualidade similar, mas mais baratos.

“A empresa ficou muito dependente de um modelo de negócios, não diferente de uma Avon, Mary Kay, de outras empresas que tem ainda uma enorme predominância na venda pessoal. Mas muitas delas, como a Natura, já vem trabalhando cada vez mais em ampliar seus canais de distribuição, montando lojas físicas, lojas digitais, vendendo em canais indiretos. Isso a Tupperware levou muito tempo para implementar”, afirmou.

No ano passado, a marca começou a oferecer seus produtos diretamente aos consumidores nas prateleiras da Target, popular rede varejista dos Estados Unidos, fundada em 1902.

A iniciativa era parte da estratégia da empresa em reinventar a marca, com planos de expandir os negócios por meio de vários canais de varejo e colocar seus produtos na frente de consumidores mais jovens que nunca experimentaram a era das “festas”.

“O que não tem a ver com a geração atual é esse modelo de negócios. O produto é bom, mas o modelo é ultrapassado”, classifica Kanter.

Além do desafio de se projetar, a Tupperware teve que aumentar os preços para proteger suas margens de taxas de juros mais altas e custos elevados de resina e mão de obra, bem como um dólar americano mais forte e desafios persistentes na cadeia de suprimentos.

Tradicional no mercado

A Tupperware foi fundada em 1946 pelo engenheiro Earl Tupper e teve um ganho de popularidade nas décadas seguintes, principalmente entre as donas de casa, ainda em um contexto onde a participação feminina no mercado de trabalho caminhava aos poucos.

A marca se popularizou com as chamadas “festas Tupperware”, em que mulheres convidavam amigas e vizinhas para apresentar os produtos e realizar vendas. No Brasil, não foi diferente.

A empresa iniciou as atividades no país em 1976 e também conquistou o público brasileiro, tornando-se sinônimo para os produtos comercializados, o mesmo que aconteceu, por exemplo, com a Xerox.

Atualmente, a força de vendas da empresa consiste em cerca de 3,1 milhões de pessoas no mundo. A marca possui mais de 8.500 patentes de produtos domésticos e designs funcionais.

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