À luz do dia, festa de abertura repete clichês e tem pouco impacto visual
Destinada a fazer uma homenagem aos “tesouros do Brasil”, a cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, que custou R$ 18 milhões ao Comitê Olímpico Local, não conseguiu muito fugir do óbvio. Criação da belga Daphne Cornez, a festa foi um desfile de ícones nativos, da natureza e da cultura, certamente com o objetivo de seduzir a audiência estrangeira.
A cerimônia começou pontualmente às 15h15 (horário de Brasília). À luz do dia, muito do impacto visual pretendido se perdeu. Também chamou a atenção os muitos vazios no palco armado sobre o gramado do Itaquerão.
A apresentação do tema da Copa, “We Are One”, por Claudia Leitte, Jennifer Lopez e Pitbull, mexeu com o público presente no estádio, mas o som pareceu abafado para quem estava assistindo pela televisão.
A transmissão da Globo lembrou desfile de escola de samba no Carnaval. Galvão Bueno esmerou-se na descrição didática dos acontecimentos, em tom escolar: “Musica, dança e apresentação da natureza, na concepção de uma artista belga”, disse. Ao seu lado, Patricia Poeta seguiu na mesma toada. “Mostrando a diversidade também da natureza”.
Um dos momentos mais esperados, o “chute inicial” dado por um garoto paraplégico, com a ajuda de um exoesqueleto (uma estrutura metálica que dá sustentação e reage a comandos do cérebro, como andar e chutar) foi praticamente ignorado na transmissão da Globo.
Uma hora depois de encerrada a cerimônia, Galvão Bueno reconheceu que a cena passou sem o destaque merecido e exibiu o momento em detalhes, explicando o trabalho do neurocientista Miguel Nicolelis.
Cerimônias de abertura de Copa do Mundo, a rigor, são sempre parecidas. Não servem para muita coisa além de um “aquecimento” para o jogo de abertura. A festa brasileira não comprometeu, mas também não será lembrada por nada especial.
Até por isso pode ser explicada, no balanço geral, a recepção relativamente fria do público no Itaquerão à proposta de Cornez.
Alguns elementos cativaram o público, como as camas elásticas em formato vitória-régia sobre as quais crianças fantasiadas de flores saltavam. O uso de fantasias de árvores caminhantes lembrando as criaturas da trilogia de “O Senhor dos Anéis” também se destacou.
Um problema foi a arquitetura do estádio, cujos espaços vazados dispersavam o som e tornavam um pouco difícil. Mas ao final do evento, a saudação ruidosa da plateia foi um sinal de aprovação. E houve até abraço da diva Lopez com Claudia Leitte, o que no casa da temperamental cantora americana é uma demonstração e tanto de afeto.
Depois dos aplausos, a plateia voltou a se unir, mas só que para soltar palavrões contra a presidente Dilma Rousseff, à Fifa e ao seu padrão de qualidade.