Ex-governanta nega furto e relata rotina de humilhação com esposa de Caetano Veloso

“Eu nunca disse um ‘não’ para ela. Só queria entender quando foi que eu virei um monstro.” É assim que a doméstica Edna Santos, 52, define o imbróglio judicial com a ex-patroa Paula Lavigne.

Demitida por “quebra de confiança” e sob acusação de furto, que ela nega, Edna define como “humilhantes” os 22 anos ao lado da esposa e empresária de Caetano Veloso.

Procurada, Paula Lavigne se defendeu através de sua advogada, Simone Kamenetz, que afirmou a Splash que a acusação se trata de “uma estratégia de contar inverdades buscando julgamento pelo tribunal da internet”.

Simone Kamenetz diz que “Paula jamais acusou a ex-funcionária de ter furtado os dólares que estavam guardados. Essa acusação é infundada, inclusive está comprovado pelos depoimentos que estão sendo prestados em sede de inquérito policial. Aparentemente, essa narrativa está sendo usada como uma cortina de fumaça para desviar o foco daquilo que, realmente, foi objeto da demissão por justa causa e que está —será, no que ainda cabe provar— fartamente comprovado nos autos”. Leia a íntegra do comunicado no final desse texto.

A relação de Paula e Edna terminou de vez no último 6 de maio, com um atendimento médico por crise de ansiedade e encaminhamento ao psiquiatra, por suspeita de crises de pânico. Agora, Edna pede cerca de R$ 2,6 milhões de indenização trabalhista, incluindo adicional noturno, acúmulo de função, horas extras e incorporação de remuneração.

Quando chegou na casa de Paula, Edna trabalhava como arrumadeira. Não tinha acesso a dinheiro, cartões ou compras. Com o passar do tempo e o aumento da confiança dos patrões, passou a atuar como governanta. Em 2020, foi contratada pela produtora do casal, mas as suas funções continuaram restritas à casa e à vida de Paula e Caetano: exames, roupas, viagens, etc.

Edna conta que, se Paula quisesse um delivery na madrugada, ligava primeiro para ela —que resolvia. As festas que reúnem famosos no icônico “apartamento de Paula” eram abastecidas e reabastecidas pela funcionária, independentemente do horário. Tanta dedicação, contudo, não era reconhecida por “Dona Paula”, segundo Edna.

“Ela é uma pessoa muito temperamental, então ela oscilava muito. Eu escutava das pessoas que sem mim a casa não funcionava, mas no dia a dia com ela era bem difícil, então eu me questionava. Eu falava com ela que não precisava ser tão áspera e tão dura para que eu a reconhecesse como patroa. Mas ela me humilhava.”

Edna relata que Paula lançava mão de inúmeros xingamentos para se referir a ela e falava do seu corpo de modo depreciativo. “Se eu engordava um pouquinho, me chamava de gorda na frente de todo mundo. Eu chegava a chorar”, exemplifica. O tamanho do cabelo também era criticado.

A doméstica conta que ouvia constantemente que era “incompetente” e que teria descontos em seu salário por conta de “erros”. No último episódio, a ameaça se deu porque o plano de saúde de Paula recusou um exame e ela teve de pagar o valor total do procedimento, o que achou ser responsabilidade de Edna, conta.

Paula também implicava com o tamanho das unhas e até dos cílios da funcionária, segundo a mesma. Para evitar reclamações, ela passou a fazer os procedimentos durante viagens internacionais da patroa.

Crise de pânico e celular confiscado

O imbróglio se arrastou até o dia 3 de maio, uma sexta-feira, quando, sem motivo aparente, segundo Edna, Paula gritou: “Esse celular é meu?”. Ela confirmou que sim, era o aparelho funcional, mas que também se tornou pessoal, devido ao tempo de trabalho, dedicação à casa e total disponibilidade para a ex-patroa. Ao ouvir a afirmativa, Paula tomou o aparelho de Edna, a obrigou a ficar isolada em um quarto e trancou-se em outro. Minutos depois, pediu a senha do aparelho, sempre de acordo com o relato de Edna.

Passou um tempo e pediu para outra funcionária fazer o backup e tirar a identificação facial do celular. Na sequência, Paula teria se passado por Edna para enviar mensagem a um de seus filhos pedindo a senha do armazenamento em nuvem do aparelho. Mas o jovem não soube informar.

“Depois, ela falou assim: ‘agora pode trabalhar’. Como eu posso trabalhar? Eu não conseguia ficar em pé, estava me tremendo. Eu tenho problema de pressão alta e a pressão começou a subir, eu não conseguia respirar e fiquei num estado de pânico, totalmente de pânico. Eu não conseguia falar, só chorava. Eu pensei que iria morrer. Fui para o hospital, me medicaram. A médica perguntou o que aconteceu e eu falei que minha patroa estava botando muita pressão em mim”, conta. Splash teve acesso ao boletim médico.

No domingo, 5 de maio, Edna conta que entrou em contato com Paula para saber se estava demitida, Paula disse que não, mas a então governanta Edna afirmou que não conseguiria mais seguir daquela forma, à base de remédios, emagrecendo por preocupação, e se prontificou, segundo seu relato, a treinar outra pessoa para sua função e sair somente quando a casa estivesse funcionando bem. Paula aceitou, diz Edna.

Na segunda-feira, 6 de maio, Edna relata ter trabalhado normalmente até ser interrompida no almoço por Paula, que, em posse do celular confiscado na sexta-feira, tocou um áudio em que Edna mostrava bebidas da casa para as amigas. Ela explica à reportagem que era uma brincadeira, que jamais levou nenhuma bebida para fora do apartamento. Paula insistiu para que Edna assinasse a carta de demissão, mas ela negou. “Eu queria antes entender por que eu estava sendo tratada como bicho”, diz.

Paula então teria ficado revoltada e a expulsado antes dela terminar de comer, segundo Edna. Foi acompanhada por uma funcionária até o quarto, para trocar de roupa, e depois por outro funcionário até o portão.

No dia seguinte, Paula perguntou a um familiar quando Edna sairia do apartamento em que morava, propriedade da empresária, conta a ex-governanta. A insistência levou a defesa dela a entrar com um pedido, acatado pela Justiça, para que a ex-funcionária tivesse 30 dias para deixar o local.

Ao longo do relato, Edna chora em vários momentos, mas diz que só sente mágoa. “Eu não odeio a Paula. Só sinto muita tristeza por tudo ter acabado dessa forma.” Ela também diz não ter medo da investigação policial -que ainda não a intimou a testemunhar. O boletim de ocorrência não está disponível para consulta.

“Eu não tenho medo de investigação policial, porque eu sou uma pessoa honesta. Mas eu não tenho medo da investigação policial que seja justa, que não plantem nada contra mim. Eu abaixei a cabeça para ela por 22 anos, mas essa não é uma humilhação como a das coisas que ela falava para mim, para me deixar mal. Agora ela mexeu com minha honra. E eu sempre fui honesta”, diz.

Em relação ao futuro, Edna diz que não sabe ao certo o que vai fazer depois de 22 anos, mas já começou: tem feito faxinas para sustentar a família. Contudo, mora em local que ninguém sabe, toma remédio para dormir e teme consequências. “Depois eu quero trabalhar, entendeu? Quero que as pessoas me enxerguem como eu sou, não como isso que estão falando. Eu quero ter a oportunidade de trabalhar sem ter essa coisa manchada que ela está tentando colocar, de que eu estou em busca de dinheiro. Eu estou atrás das minhas coisas de forma justa e honesta. E quero ser tratada de forma decente.”

A defesa de Paula Lavigne na íntegra

“O que está havendo é uma estratégia adotada, fora dos autos dos processos, em que essa discussão deveria ficar adstrita, para usar as mídias para contar inverdades contra Paula Lavigne e Caetano Veloso buscando um julgamento pelo tribunal da internet, onde não importam provas e verdades, mas tão somente narrativas falaciosas, perpetuando, de maneira irreversível, essa retórica nas milhões de páginas da internet.

Essa tática provocativa, inclusive, é bastante conhecida. Fatos inverídicos ou absolutamente fora de contexto são usados como iscas, para, ao mesmo tempo em que cria essa narrativa maniqueísta, Paula tinha dito que não iria falar fora dos autos, porque não quer expor a ex-funcionária publicamente.

Os fatos que estão sendo tratados em juízo são gravíssimos, todos muito bem fundamentados em provas incontestáveis. Mas não é possível ficar inerte diante de acusações inverídicas, com cunho difamatório e calunioso que estão sendo feitas contra Paula e Caetano.

Paula jamais acusou a ex-funcionária de ter furtado os dólares que estavam guardados. Essa acusação é infundada, inclusive está comprovado pelos depoimentos que estão sendo prestados em sede de inquérito policial.

Aparentemente, essa narrativa está sendo usada como uma cortina de fumaça para desviar o foco daquilo que, realmente, foi objeto da demissão por justa causa e que está – e será, no que ainda cabe provar – fartamente comprovado nos autos.

Paula é muito bem quista pelos funcionários e ex-funcionários. Esses funcionários ficam com ela 20, 30 anos, porque são bem tratados. Paula se preocupa com todos, e ajuda muita gente. Uma relação assim, de tantos anos, também tem suas rusgas, mas chamar isso de abuso é surreal, ainda mais considerando tudo o que o casal fez pela ex-funcionária e sua família.”

Simone Kamenetz, advogada.

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