Jornalista é preso em Teresina pelo assassinato de travesti na zona Sul
O professor e jornalista Luis Augusto Antunes, de 31 anos, foi preso no bairro Aeroporto, apontado pela polícia como suspeito de assassinar Maciel Batista Ismael Sousa, conhecido como a travesti Makelly Castro. O corpo da vítima foi encontrado no dia 18 de julho de 2014, parcialmente despido e de braços abertos, em um terreno baldio próximo ao Distrito Industrial, zona Sul de Teresina.
Segundo nota da polícia civil, Makelly foi morta por asfixia.
As investigações do caso foram comandadas pela Delegacia de Homicídios. Presidido pelo delegado Higgo Martins, o inquérito acabou apontado que um dia antes do corpo de Makelly ser encontrado, o professor Luis Augusto foi visto em frente a uma boate no centro de Teresina, no momento em que a vítima entrou no carro do suspeito.
A polícia informou ainda que Luis Augusto, três meses antes do crime, teria tentado contra a vida de outro travesti, que na ocasião teria anotado a placa do veículo do professor. “O coordenador da Delegacia de Homicídios, Francisco Bareta, disse que após um trabalho detalhado de investigação de campo somado aos resultados de laudos periciais e provas testemunhais foi feita representação pedindo a prisão preventiva do acusado, concedida posteriormente pelo juiz Luís Moura da Central de Inquéritos”, traz a nota divulgada pela polícia.
Na Delegacia de Homicídios a reportagem do 180graus conversou com o advogado Marcus Vicinius Araújo. Ele contou que recebeu o mandado de prisão temporária contra o professor, que é também militante do PSTU, mas que vai argumentar contra as alegações da polícia que levaram à prisão do jornalista.
Uma das alegações será a respeito do veículo do professor, que para o advogado, tem uma cor muito comum. “Um Fiat Palio vermelho é muito comum, muita gente tem um carro nesse modelo”, disse o advogado, ao 180.
Ele argumentou ainda que no suposto momento do crime o jornalista estava na sede do PSTU e que ele não conhecia a travesti. Outro ponto questionado pelo advogado é um adesivo no veículo. Amigas de Makelly relataram à polícia que no carro que a pegou em frente à boate havia o adesivo de uma santa na traseira do veículo. “No carro do meu cliente há o adesivo de uma santa, mas no vidro da frente”, disse.
O delegado que presidiu o inquérito conversou com o 180. Ele explica que toda investigação partiu da placa do veículo informada pelas amigas de Makelly. Ao fazer a busca pela placa, os policiais descobriram que o carro estava no nome de um banco. Uma busca mais aprofundada levou até uma senhora aposentada, amiga do jornalista.
De idade avançada, a mulher cedia o veículo para Luis Augusto em troca de alguns favores, como levá-la ao médico, ao supermercado, por exemplo. E quando ela viajava, o carro era usado livremente pelo jornalista e naquele dia, segundo o delegado, ele usou o veículo para cometer o crime.
O delegado explicou ainda que a demora na elucidação do caso se deu por dois pontos específicos. Primeiro, por conta de um caso de agressão a uma travesti ocorrido na avenida Maranhão, que levantou suspeitas de que seria o mesmo responsável pela morte de Makelly. A polícia acabou descobrindo que não há relação entre os dois caso.
O segundo fato que retardou o fim das investigações foi a busca da polícia por detalhes do dia a dia do jornalista. Militante do PSTU, ele tem contato com membros de grupos GLBT e tem na sua agenda o contato de diversas outras travesti. A polícia descobriu ainda mensagens do suspeito marcando encontros com membros destes grupos.
Durante as investigações, a polícia detectou ainda que o jornalista trocou as calotas do carro, mudou o nível do fumê e ainda, tirou o adesivo que estava na traseira do veículo. Ele inicialmente negou seu envolvimento com o caso, mas a polícia diz não haver dúvidas.
PSTU DIVULGA NOTA
Em contato com o 180, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) informa que desde 28 de junho de 2014 o Sr. Luís Augusto Antunes – acusado de ser o autor de homicídio contra a transexual Makelly Castro – não militava nas fileiras de nossa organização.
A nota diz ainda que, mesmo não fazendo parte dos quadros de militantes, a notícia de possível envolvimento do Sr. Luís Antunes com o crime pegou a todos de surpresa, e causou grande perplexidade.
“Reafirmamos o que dissemos no dia 21 de julho de 2014, em frente à Delegacia Geral, em ato público que denunciava a morte de LGBTs como Makelly no Piauí: todos os crimes motivados por LGBTfobia sejam devidamente apurados e os culpados sejam punidos com todo o rigor da Lei.” 180