Ministério Público investiga professor da Ufes por declaração racista
Após ser afastado das aulas da turma vítima de declarações preconceituosas, o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Manoel Luiz Malaguti, vai ser investigado pelo Ministério Público Federal no estado (MPF-ES).
O órgão instaurou um procedimento investigativo criminal para apurar a conduta do professor. Os documentos exigidos pelo MPF-ES devem ser apresentados em um prazo de 48h, a partir desta quarta-feira (5). Segundo a Ufes, a justificativa para o afastamento foi para evitar desgastes. O G1 procurou Malaguti nesta quinta-feira (6), mas ele não atendeu as ligações.
A apuração vai ser conduzida pelo procurador da República Ercias Rodrigues de Sousa, que expediu ofício, nesta quarta-feira, para o reitor da Ufes solicitando que universidade apresente o nome do professor, a lista de presença do último dia 3 de novembro da disciplina de Introdução à Economia Política, do 2º período do curso de Ciências Sociais e a cópia da representação dos alunos da Ufes solicitando a apuração das ofensas que teriam sido proferidas pelo professor.
Para o desembargador Willian Silva, a partir do momento em que o professor fez a declaração, ele colocou o negro em condição de inferioridade. “Eu peguei o jornal e li a afirmação de que ele ‘detestaria ser atendido por um médico negro’. Por causa disso, entrei com a representação. Eu, como negro, me senti ofendido e parte legítima para acionar o MPF”, falou Silva.
O reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Reinaldo Centoducatte, afirmou em entrevista coletiva, nesta quarta-feira, que o posicionamento do professor de Economia Manoel Luiz Malaguti sobre negros e cotistas na instituição é ‘constrangedor’. Uma sindicância foi aberta na Ufes para o caso ser apurado. Para o reitor, declarações trazem ‘um sentimento de perplexidade’.
Denúncia
Alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) denunciaram o professor por ter dito frases de caráter racista e preconceituoso durante uma aula, na tarde de segunda-feira (3). De acordo com uma publicação feita pelo Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais da Ufes em uma rede social, o professor teria dito que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, por exemplo. Cartazes com a foto do mestre e com o título “Professor Racista” estão espalhadas pelo campus.
Protesto
Na tarde desta quarta-feira, estudantes fizeram uma manifestação no campus da universidade. Com cartazes e gritando palavras de ordem, os jovens caminharam pelo campus de Goiabeiras, em Vitória, e chegaram a interditar os dois sentidos da Avenida Fernando Ferrari durante alguns minutos.
OAB
O advogado José Roberto de Andrade, da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), contou que se reuniu com alunos e professores do Centro de Ciências Humanas, na noite desta terça-feira (4) e que a Ordem repudia veementemente a declaração do educador.
“Nós ficamos entristecidos em ver que em pleno século XXI, em uma instituição de ensino superior, um professor ainda possa ter esse tipo de discurso em sala de aula. Esse é um discurso atrasadíssimo, superado, que cairia bem, talvez, em um engenho do século XVI, mas não hoje”, disse. G1