Ex-estudante de medicina condenado no PI por estupros foi procurado em 4 países e teve ajuda para ‘rota de fuga’, diz polícia

A Polícia Civil do Piauí e a Interpol procuraram em pelo menos quatro países o ex-estudante de medicina condenado pelo estupro de uma irmã e uma prima. Ele foi achado em Mar del Plata, Argentina, no dia 17 de janeiro, e a polícia vai apurar quem pode ter ajudado e até montado uma rota para a fuga de Teresina à cidade argentina. O g1 não divulga nome e foto do jovem para preservar as vítimas.

Em entrevista coletiva concedida pelos delegados que investigaram o caso, a delegada da Polícia Federal, Milena Caland, contou que pistas levaram a polícia a buscar pelo jovem em Portugal, Espanha, Paraguai e Argentina.

No último país, ele viveu em pelo menos em duas cidades. A polícia acredita que ele tenha fugido de Teresina pra lá assim que foi expedido o mandado de prisão contra ele, em outubro de 2021.

Segundo o delegado Anchieta Nery, que integra a Inteligência da Polícia Civil do Piauí, a polícia acredita que ele tenha recebido diversas ajudas durante a fuga, incluindo suporte para se estabelecer na Argentina. Pais e parentes próximos não podem ser responsabilizados por isso, mas terceiros que tiverem colaborado com a fuga podem ser responsabilizados.

O delegado informou que o rapaz possivelmente partiu de Teresina pelo Centro-Oeste do país em direção ao Paraguai, passando por Foz do Iguaçu, por meios em que o uso dos documentos não era necessário.

Desde então, ele morou em Buenos Aires por vários meses – cerca de um ano – trabalhando como garçom em um restaurante de luxo. Com a sentença de condenação, expedida pouco mais de um ano depois da fuga, ele seguiu para Mar del Plata.

Segundo o delegado Anchieta Nery, as primeiras pistas para a prisão partiram de pessoas que tiveram contato com o estudante e que foram “juntando pistas”.

“Quando você mente, e isso é do psicológico do ser humano, você apoia essa mentira em verdades. Ele pode ter dito que era do Piauí, que era estudante, que estava tirando um ano sabático… Algumas pessoas foram juntando peças, pesquisaram na internet e descobriram a história toda. Por isso é tão importante divulgar esse tipo de caso amplamente”, contou.

Conforme o delegado Anchieta Nery, o rapaz vivia uma vida normal de um jovem, tendo um amplo círculo social. Ele foi preso em frente a um shopping bastante movimentado da cidade. Ainda não há informações sobre se estava acompanhado e nem se ofereceu reação à prisão, já que todo o procedimento de acompanhamento presencial e do cumprimento de mandado foram feitos pelos policiais argentinos.

Policiais trabalharam 15 meses no caso

O delegado-geral da Polícia Civil, Lucy Keiko, destacou durante o tempo em que o caso esteve sob investigação, pelo menos 20 policiais estiveram diretamente ligados ao caso, incluindo as delegadas Camila Rodrigues e Edenilza Viana, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.

Acompanharam de perto o caso também os delegados Anchieta Nery, que integrava a Delegacia de Repressão aos Crimes de Internet; Matheus Zanatta, que comandava a gerência de polícia especializada, a a diretora do Departamento Estadual de Proteção à Mulher da Polícia Civil, delegada Bruna Verena.

Para manter o contato frequente sobre pistas e diligências do caso, os policiais criaram um grupo exclusivo no WhatsApp.

“Conversávamos sobre o caso, trocávamos informações e íamos articulando as ações, conforme íamos recebendo pistas”, disse o delegado-geral.

Prisão na Argentina

O ex-estudante de medicina condenado a 33 anos e oito meses de prisão por estupro de vulnerável contra uma irmã e uma prima em Teresina, adotou o nome falso de Pedro Saldanha, deixou o cabelo crescer e vivia tranquilamente como garçom na cidade de Mar del Plata, na Argentina.

Ele foi preso na última terça-feira (17) e divulgada pela polícia somente nesta quinta-feira (19), depois de mais de um ano foragido. O delegado Anchieta Nery, atualmente integrante da Inteligência da Polícia Civil do Piauí, mas que comandou a Delegacia de Repressão a Crimes de Internet até o fim de 2022, contou que a primeira pista do paradeiro do ex-estudante aconteceu online.

“A polícia civil nunca descansou, a DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente] e a Gerência de Polícia Especializada ficou por mais de um ano tentando localizá-lo. No fim do ano, surgiu uma informação dele na Argentina, a partir daí, o delegado [´Matheus] Zanatta nos acionou, para por meio dos dados cibernéticos confirmar essa identidade, se aquela pessoa que estava tendo uma vida tranquila na Argentina era ele, com o suposto nome de Pedro Saldanha”, contou o delegado.

A polícia contou que pessoas que conviviam com ele na Argentina desconfiaram de algumas atitudes e entraram em contato com a polícia no Piauí. Ainda à distância, a polícia buscou confirmar a identidade do foragido.

Em seguida, de forma presencial, segundo o delegado, a polícia chegou a acompanhar de perto a rotina do foragido. Quando a identidade foi confirmada, a Polícia Civil do Piauí solicitou ajuda da polícia da Argentina e da Interpol.

“Ele tinha uma vida tranquila em Buenos Aires, mas quando ele viu que saiu a condenação, de 33 anos de prisão, isso pode ter mexido com o emocional dele e ele mudou de cidade, para Mal del Plata”, contou.

Conforme legislação argentina, o jovem ficou incomunicável desde ontem, tendo contato apenas com um juiz. Assim, somente após alguns dias a Polícia Civil do Piauí terá acesso a ele para os procedimentos cabíveis de recambiamento. Inicialmente, o procedimento de extradição será feito pela Polícia Federal do Brasil.

Condenação

Em novembro de 2022, o jovem foi condenado pelos estupros contra a prima de 12 anos e a irmã de nove anos. Pelo estupro de outra irmã, com então 3 anos, o réu foi absolvido. Pelo crime contra a prima, o juiz Raimundo Holland Moura de Queiroz, da 5ª Vara Criminal de Teresina, determinou pena de 10 anos, 4 meses e 7 dias pelo abalo psicológico e relações domésticas. Já contra a irmã de nove anos, a pena foi de 23 anos e 4 meses, sendo consideradas além do abalo psicológico, relações domésticas e ser irmão paterno da vítima.

A prisão foi efetuada com apoio da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), do Corpo de Investigação Judicial (CIJ) do Ministério Público Fiscal de Buenos Aires e da Polícia Federal Argentina.

Os crimes

Os crimes foram denunciados pelas mães das vítimas à Delegacia de Proteção à Criança e Adolescência (DPCA), em Teresina, em setembro de 2021. As vítimas, de 3 a 15 anos na época, revelaram os abusos, que ocorriam entre jogos e brincadeiras, segundo a polícia, principalmente dentro do quarto do estudante, que morava com o pai, a madrasta e as duas irmãs.

Ele estudava medicina em uma faculdade em Manaus, depois das denúncias foi expulso do curso e fugiu. Em mensagem à madrasta, o estudante chegou a confessar o crime e pediu perdão.        G1-PI

 

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