No Bicentenário da Independência, destaque para os 100 anos do rádio no Brasil

O centenário da Independência do Brasil, celebrado em 7 de setembro de 1922, marcou a primeira transmissão de rádio feita a partir de estações instaladas no país, na cidade do Rio de Janeiro, que era a capital federal na época.

Cariocas tiveram a oportunidade de ouvir o discurso do presidente Epitácio Pessoa, realizado na praça XV, e a exibição da ópera de Carlos Gomes, no Theatro Municipal, na Cinelândia. Com apenas 80 receptores adquiridos, um grupo de pessoas pôde testemunhar a invenção que transformaria os hábitos e costumes da sociedade brasileira nas décadas seguintes.

No ano seguinte, Edgard Roquette-Pinto deu início à Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a partir de um transmissor instalado na Escola Politécnica. Com vocação popular, o rádio se transformou em um veículo de entretenimento, cultura, informação e prestação de serviço, sendo um dos principais meios de comunicação no país até o surgimento da televisão, nos anos 1950.

As ondas do rádio alcançavam as periferias do Brasil, especialmente em locais onde a televisão parecia uma realidade ainda distante devido aos altos custos dos aparelhos. De radionovelas aos noticiários, a programação variada buscava divertir e informar os brasileiros.

O que se ouvia nos primórdios do rádio
Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Silvio Caldas, Francisco Alves, Linda e Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Elizeth Cardoso, Emilinha Borba e Marlene. Estes são apenas alguns dos artistas que brilharam junto à Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que colocou em destaque a divulgação da música popular brasileira.

A primeira radionovela foi lançada em 1941, quando “Em Busca da Felicidade” foi ao ar pela primeira vez. Já os programas de auditório eram destaques da Rádio Nacional, com quadros de humor, música e show de calouros.

No jornalismo, o tradicional Repórter Esso retratou as mudanças na sociedade brasileira ao longo de mais de 25 anos.

Durante a Era de Ouro do Rádio, os mais bem sucedidos programas de auditório tinham quadros dedicados a cantoras. Emilinha Borba era destaque no programa de César de Alencar e Marlene no de Manoel Barcelos.

Em 1949, as duas disputaram o título de Rainha do Rádio, concurso radiofônico com o objetivo de arrecadar fundos para a construção de um hospital. “O rádio tinha um papel fundamental: ele era um indicador de popularidade”, diz Lia Calabre, professora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Primeiros passos do rádio nos Estados Unidos
A primeira transmissão de rádio realizada nos Estados Unidos foi feita por Reginald Aubrey Fessenden, de uma estação experimental em Brant Rock, em Massachusetts, na véspera do Natal de 1906. O programa contou com duas seleções musicais, a leitura de um poema, e uma breve palestra.

A evolução da radiodifusão ganhou força após o final da Primeira Guerra Mundial, com a multiplicação da atividade dos radioamadores e ampliação da demanda por aparelhos receptores que pudessem ser operados por leigos.

Logo nos primeiros anos da década de 1920, houve um crescimento significativo da venda de receptores de rádio e de componentes para sua construção doméstica, seguido de um grande aumento no número de estações transmissoras.

Quem foi Roquette-Pinto
Antropólogo, ensaísta, etnólogo, médico legista e professor, Edgard Roquette-Pinto conta com mais um importante papel: o de pai da radiodifusão brasileira. O interesse pelo desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação de massa foi intensificado após a transmissão do presidente Epitácio Pessoa.

Para ele, o rádio era “o material de ensino indispensável, mesmo quando custa muito, da educação intensiva que o meio familiar é capaz de promover e na cultura que o Estado tem o dever de animar”.

Em abril de 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi criada a partir da iniciativa de Roquette-Pinto, que convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar o projeto. O objetivo da emissora era a difusão de assuntos culturais e científicos. Durante o governo de Getúlio Vargas, em 1936, ele doou a rádio ao Ministério da Educação, que a renomeou como Rádio MEC.

Roquette-Pinto faleceu em 18 de outubro de 1954, aos 70 anos. Em comemoração ao seu legado, o Dia do Rádio no Brasil é comemorado na data de seu nascimento.

Pioneirismo pernambucano
O pesquisador da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Serico Vaz Filho conta que antes da primeira emissora regular do Brasil, amantes da radiotelegrafia montaram uma estação de rádio experimental, a Rádio Clube de Pernambuco.

“Esse grupo se reúne para tratar a questão da comunicação à distância sem a utilização de fios. Toda essa experiência foi realizada naquele momento a partir de 6 de Abril de 1919”. Duas semanas depois, a instituição publicaria os estatutos da rádio, que estabelecia como seriam efetuados os trabalhos.

Em outubro de 1923, a Clube de Pernambuco passaria por uma reformulação para o uso do rádio como meio de comunicação. Para Vaz Filho, a renovação, através da instalação de novas tecnologias, deve ser reconhecida como a continuação de uma estação já fundada. “Essa existência anterior foi uma existência de estruturação, de estudo, de desenvolvimento, de técnicas, ela ganha esse espaço”, afirma.

(Com informações do Jornal da USP, da Rádio MEC e da Agência Brasil)

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