Samir Xaud é eleito novo presidente da CBF; parte dos clubes boicota pleito
Dirigente de Roraima assumirá a gestão da confederação após a queda de Ednaldo Rodrigues; mandato é de quatro anosSamir Xaud é o novo presidente da CBF. O dirigente de Roraima foi confirmado no comando da confederação na manhã deste domingo, após eleição realizada na sede da entidade. Ele, que recebeu votos de 26 federações e 20 clubes, assume imediatamente o cargo e tem mandato até 2029.
Apesar de ser candidato único, Xaud não conseguiu unanimidade de votos – como ocorreu na eleição anterior, que reelegeu Ednaldo Rodrigues. Foram 103 votos de um total de 141 possíveis.
Parte dos clubes, que tinham declarado apoio a Reinaldo Carneiro Bastos há uma semana, boicotou o processo e dispensaram, inclusive, a possibilidade de voto online, o que foi proposta pela comissão da eleitoral em dia de rodada do Brasileiro. Operário e Santos, por outro lado, furaram o boicote. Bragantino e Ferroviária disseram que viriam e não compareceram.
Clubes presentes:
- Série A (10): Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Ceará, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Santos, Vasco, Vitória
- Série B (10): Amazonas, Athletic, Avaí, CRB, Criciúma, Operário, Paysandu, Remo, Vila Nova, Volta Redonda
— Hoje iniciamos uma nova fase na Confederação Brasileira de Futebol. Nossa gestão, e faço questão de usar o plural, será marcada pela renovação das ideias e pela agregação de todos aqueles dispostos a contribuir efetivamente para o desenvolvimento pleno do nosso esporte — disse Xaud, em seu primeiro discurso como mandatário.
— Não cheguei até aqui sozinho. Faço parte de um grupo que se uniu com um único propósito: construir uma nova CBF, moderna, participativa e comprometida com o desenvolvimento da indústria do futebol — acrescentou.
Além do presidente e os oito vices, a eleição também definiu os novos nomes do Conselho Fiscal. Simon Riemann Costa e Silva, Eduardo Rigotto Netto e Frederico Ferreira Pedrosa serão membros efetivos, enquanto os membros suplentes serão Francinaldo Kennedy Lima Barbosa, Manoel Rodrigues Neto e Rodrigo Ferreira La Rosa.
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Samir Xaud na cabine de votação da eleição para presidência da CBF — Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Xaud será empossado ainda neste domingo e assumirá uma confederação que bateu recorde de arrecadação no ano passado – R$ 1,5 bilhão em receitas -, mas com fraturas políticas.
Há pouco mais de uma semana, a Justiça do Rio de Janeiro determinou o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF por causa de uma assinatura supostamente falsa do Coronel Antônio Nunes, ex-presidente da entidade, num acordo firmado em janeiro para encerrar disputas jurídicas que mantinham Ednaldo pendurado por liminares.
O ex-presidente nega a fraude no documento – Nunes está há meses muito debilitado por uma doença –, mas decidiu desistir de lutar pelo cargo na semana passada, quando informou o STF (Supremo Tribunal Federal), que reunia ações ligadas à CBF, que não mais recorreria.
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Samir Xaud na assembleia geral para eleição do novo presidente da CBF — Foto: Rafael Ribeiro/CBF
No mesmo dia em que Ednaldo foi afastado, um bloco de 19 federações publicou um manifesto em que pedia renovação da CBF. Foi desse bloco que emergiu Saud como candidato à presidência.
Houve, então, um outro movimento encabeçado pelo presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, unido a uma parte majoritária de clubes da Libra e da LFU (Liga Forte Futebol), numa tentativa de lançar uma chapa opositora, mas que naufragou.
Apesar do apoio maciço dos clubes, Reinaldo não conseguiu convencer as federações, que são protagonistas no processo eleitoral. Para registrar uma chapa, ele precisaria de pelo menos oito federações – só tinha duas – e mais cinco clubes.
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Assembleia Geral Eleitoral que elegeu Samir Xaud como novo presidente da CBF — Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Xaud arrematou o apoio de 25 federações – apenas São Paulo e Mato Grosso ficaram fora – e dez clubes, o que inviabilizou a criação de uma segunda chapa.
Durante a semana, um grupo com 21 clubes tornou público que boicotaria a eleição em protesto ao sistema que enfraquece o poder desses personagens na escolha do presidente da CBF. Sugeriram diálogo após o pleito, mas se recusaram a participar dele – o que se confirmou neste domingo.
Empossado, caberá a Xaud apresentar nesta segunda-feira, no Rio, o técnico Carlo Ancelotti como novo comandante da Seleção. O italiano era um desejo antigo de Ednaldo, que conseguiu contratá-lo antes de cair – ele tinha a esperança de que fosse, também, um trunfo para se manter no cargo, o que não aconteceu.
Processos e defesas
Eleito neste domingo, Samir teve vida pública como secretário estadual de saúde em Roraima e enfrentou algumas denúncias e acusações nos últimos anos. Em 2021, o ge revelou que o então presidente interino da CBF, Ednaldo Rodrigues, contratou a clínica médica de Xaud para atuar naquele estado, o que era proibido pelo estatuto da própria entidade.
Na ocasião, a CBF afirmou que a contratação se deu por pedido da Comissão Médica da entidade nacional e se justificaria pela “escassez de recursos” dos clubes de futebol de Roraima.
Em 2020, Samir foi afastado da função de perito médico do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima por suposto erro médico, o que o novo presidente classificou como “fake news”, em entrevista ao jornal “O Globo”.
Samir também responde a ação judicial movida pelo Ministério Público de Roraima, que o acusava em esquema de falsificação de documentos enquanto era diretor-geral do Hospital Geral de Roraima (HGR), entre 2017 e 2020. Segundo a denúncia do MP local, ele e outros gestores simularam serviços médicos para justificar pagamentos, causando prejuízo de R$ 1,4 milhão aos cofres públicos.
– Isso faz parte dessa política suja que eles fazem, mas eu estou bem tranquilo, consciente. Nunca fui condenado, envolvido em esquemas. Estou bem tranquilo – disse Samir Xaud, nesta semana ao jornal “Folha BV”, de Boa Vista.
O site “Uol” publicou nesta semana que Samir Xaud tentou regularizar propriedade rural de 1.349 hectares em Rorainópolis, no sul de Roraima, dentro de uma área de proteção ambiental. Samir nega. Um dos documentos da reportagem contém a assinatura de Samir Xaud.
Todos os presidentes da CBF desde 1979*:
- Giulite Coutinho (1979 a 1980)
- Octávio Pinto Guimarães (1980 a 1986)
- Ricardo Teixeira (1989 a 2012)
- José Maria Marin (2012 a 2015)
- Marco Polo Del Nero (2015 a 2018)
- Rogério Caboclo (2019 a 2021)
- Ednaldo Rodrigues (2021 a 2025)
- Samir Xaud (a partir de maio de 2025)
*Sem contar presidentes interinos.